Nuvens, vão as nuvens… Novas variáveis econômicas alteram o cenário, com maior PIB e exceções de gastos, afetando o Teto dos Gastos e o Arcabouço Fiscal, em relação à dívida/PIB, segundo o Fundo Monetário Internacional, para ajuste estrutural.
As nuvens são verdadeiras autênticas obras de arte do céu, com formas variadas que capturam a imaginação das pessoas de todas as idades. Eu me lembro de brincar com minha tia Heidy, observando e comparando as diferentes formas das nuvens, tentando identificar qual figura elas se pareciam com o mais.
Num cenário onde a relação entre a formação das nuvens e o mercado climático é cada vez mais relevante, é possível notar que as nuvens têm papel fundamental no equilíbrio do nosso planeta. Elas podem se apresentar em formatos variados, desde os mais simples até os mais complexos, como um quadro natural da natureza. E, como disse o deputado Ulisses Guimarães, a política pode ser comparada à formação das nuvens: tudo muda em cada minuto, refletindo a dinâmica constante que impera na política. A formação das nuvens é um exemplo perfeito de como a natureza pode ser fascinante e desafiadora ao mesmo tempo.
Nuveniformes e Formatos Cenários
Na saudosa relação entre economia e política, é comum que cenários econômicos mudem de formato, gerando incertezas e preocupações. Nesse momento, o quadro macroeconômico local é diametralmente oposto ao traçado no início de 2024 pela maioria dos analistas, com PIB maior do que o projetado previamente, porém com diversas outras variáveis muito piores. Ou seja, as nuvens mudaram radicalmente de formato, desenhando agora um cenário mais sombrio. Por exemplo, pareciam um gatinho inocente e, agora, mais desenham um tigre selvagem.
A proposta de alteração do Teto dos Gastos pelo novo Arcabouço Fiscal foi um dos temas de discussão. Fui contra essa alteração, entendendo, no entanto, que o governo do presidente Lula da Silva, eleito democraticamente, tinha direito de questionar a regra fiscal vigente. O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) vai nessa direção. Se pararmos para analisar o que está ocorrendo nesse momento, veremos que o quadro fiscal é crítico: estamos com um déficit, de janeiro a setembro de 2024, de R$ 105 bilhões, quando, pela regra do arcabouço, só podemos chegar a R$ 28,8 bilhões no ano. Isso significa que a relação dívida/PIB está aumentando, e não está estável, como a regra fiscal visa.
A criação de exceções de gastos, como a ajuda ao Sul e os recursos para combater as queimadas no Pantanal e na Amazônia, também contribuiu para essa crise fiscal. A alternativa que o governo encontrou para alterar essa situação grave foi propor um ajuste estrutural de gastos, através de uma Junta de Execução Orçamentária, que teria o objetivo de propor cortes estimados em torno de R$ 50 bilhões. Infelizmente, no entanto, especula-se que o valor final da proposta deva ficar abaixo desse montante e não será suficiente para soerguer as expectativas dos mercados e o cumprimento da regra para a frente. Em relação a 2024, temos apenas três meses para conseguir um verdadeiro milagre.
O presidente, em entrevista, diz que o mercado ‘fala bobagens todos os dias’, que conhece sua ‘gana especulativa’ e que vai vencê-lo. Peço vênia ao presidente, mas penso que nossos alertas sejam pertinentes. Em recente artigo no Estadão, Henrique Meireles, seu ex-presidente do Banco Central, vai nessa direção, de pedir ajustes nos gastos. Ele também está falando bobagens? Foi seu banqueiro central por oito longos anos. Outra nuvem? Entendo as preocupações do mandatário, mas desgosto dessa ideia de que somos adversários, tendo um que vencer o outro.
Cortar BPC, seguro-desemprego, recursos do Fundeb, desatrelar os pagamentos do INSS do salário-mínimo são decisões complexas sob o aspecto político/popular. Todavia, caso não se efetive um corte estrutural robusto, quem perderá é o país, com a inflação mais elevada. Dessa feita, teremos problemas que não serão contornáveis, pois necessitaremos de novas altas de juros, afetando para a frente o cenário econômico. O mercado está alertando para essa possibilidade, e não é bobagem. É hora de olhar para o quadro fiscal com realismo e tomar medidas para evitar esse cenário sombrio.
Fonte: @ Valor Invest Globo