Quem investe de risco quando pode ganhar juro superior a 7% e tem sido o desempenho decepcionante?
Os investidores prudentes e calmos, no entanto, tendem a abraçar as alternativas mais seguras, afastando-se do risco de perdas significativas em busca de uma renda estável e previsível.
Embora o risco possa ser uma consideração, é essencial abordá-lo de forma equilibrada, pois é possível encontrar uma diversificação para mitigar a exposição a um único ativo de baixo risco
Risco: O Desafio para os Investidores Brasileiros
O investidor brasileiro que apostou nos ativos e fundos de risco no mercado doméstico enfrentou um dilema: o risco é uma realidade que substituiu a certeza de rentabilidade. A situação é alarmante, especialmente considerando o desempenho dos fundos multimercado, que tem sido decepcionante. O Índice de Hedge Funds (IHFA), calculado pela Anbima, registrou apenas 71% da rentabilidade do CDI no ano passado e, até novembro, acumulou apenas 55%.
O cenário é provocado pela concorrência do aumento da taxa Selic e da percepção de risco no mercado brasileiro, que levou os fundos multimercado a enfrentarem captações líquidas negativas frequentes desde 2022. Nos últimos 35 meses, foram 33 meses de saídas negativas, com saques líquidos atingindo R$ 324 bilhões até novembro deste ano, com todos os meses registrando números negativos.
A deterioração do ambiente econômico nas terras brasileiras, iniciada pela PEC dos precatórios, conhecida como PEC do calote, e a sequência de mudanças regulatórias, fragilizou o ambiente institucional em paralelo à deterioração do quadro fiscal brasileiro. Esse cenário combinado resultou na redução da confiança, desancoragem das expectativas e perda de valor dos ativos domésticos.
Um raio-X feito nos fundos multimercados revela a dificuldade dos gestores em captar recursos. Até o dia 29 de novembro, um grupo de pouco mais de 600 fundos ofertados para o público em geral acumulou rentabilidade de 7,15% contra 9,85% do CDI, ou 73% do CDI. A situação se torna pior quando se leva em consideração o risco, já que o resultado inferior ao CDI foi alcançado a partir de um risco mediano de 3,74%.
Apenas um terço dos fundos da amostra conseguiu superar o desempenho do CDI. Para este recorte, a rentabilidade mediana foi 12,40% e a volatilidade de 2,61%. O risco aqui é menor que o do grupo como um todo, mas explica essa aparente inconsistência é o comportamento daqueles que estão abaixo da linha de corte. Para esses dois terços restantes, a rentabilidade de apenas 4,23% foi obtida à custa de um risco de 4,05%.
O que explica essa aparente inconsistência é o comportamento daqueles que estão abaixo da linha de corte. Para esses dois terços restantes, a rentabilidade de apenas 4,23% foi obtida à custo de um risco de 4,05%. Ou seja, para produzir 43% do CDI foi preciso consumir quase duas vezes mais risco do que os fundos do grupo superior.
O olhar detido sobre esta amostra indica que os melhores desempenhos foram obtidos pelos gestores que preferiram se afastar dos ativos brasileiros. Embora a filosofia de investimentos dos multimercados seja diversificar os riscos por meio da alocação entre diversas classes de ativos e regiões geográficas, o que se pôde ver foi que a concentração foi premiada. Os campões em rentabilidade foram os gestores que optaram por uma estratégia de investimento mais agressiva.
Fonte: @ Valor Invest Globo