Crônicas publicadas no extinto Correio da Manhã revelam a percepção do escritor mineiro sobre décadas de 1950, formato curto de texto, lente que amplia crônicas inéditas.
As crônicas sempre fizeram parte da cultura jornalística do Brasil, trazendo aos leitores uma variedade de perspectivas e opiniões que refletiam o cenário político, social e cultural do país na época. Um dos nomes mais reconhecidos nesse campo é o do crônico Carlos Drummond de Andrade, cujas obras são consideradas clássicas da literatura brasileira e continuam a ser lidas e debatidas até hoje.
Com a evolução da imprensa e do jornalismo, as crônicas também evoluíram, passando a ser mais diversificadas e abrangentes, abordando temas como meio ambiente, economia e direitos humanos. Além disso, com o surgimento da internet e dos textos digitais, a forma como as crônicas são consumidas e compartilhadas também mudou, tornando-se mais acessível e interativa para os leitores. A crônica, portanto, é um gênero que continua a ser relevante e importante no jornalismo e na literatura brasileira, oferecendo aos leitores uma visão crítica e reflexiva da realidade.
A Crônica em Foco
A literatura brasileira contou com uma geração excepcional de escritores, incluindo Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Vinicius de Moraes, Rubem Braga, Sérgio Porto, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Millôr Fernandes, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos, Antonio Maria e o mestre, Carlos Drummond de Andrade. Esses autores foram contemporâneos de uma época brilhante da crônicas, marcada por décadas de 1950 e 1960, que tornavam a vida mais atraente e inteligente. Com delicadeza, percepção e talento literário, além de uma veia poética, esses nomes consagrados faziam leituras deliciosas dos hábitos e costumes dos brasileiros.
A Era Dourada da Crônica
O tempo passou e a era dourada da crônica diária quase se perdeu, felizmente ainda temos Ruy Castro. Recém-lançado pela Record, A intensa palavra: crônicas inéditas do Correio da Manhã, 1954-1969, de Drummond, é uma oportuna reviravolta para reviver ou experimentar pela primeira vez o prazer proporcionado por esse formato curto de texto, quase sempre ligado ao momento de vida de seu autor.
Um Poeta Público
Por se tratar de um dos grandes poetas e escritores do país de todos os tempos – Drummond é considerado o poeta maior do Brasil e foi definido pelo crítico Otto Maria Carpeaux como o primeiro grande ‘poeta público do Brasil’ – o que ele escreveu vai além disso. Como diz Luís Henrique Pellanda, organizador da antologia, o livro funciona como uma espécie de lente que amplia nossa compreensão acerca do tempo e do cotidiano, enquanto reflete a visão de Drummond sobre o país e o século 20.
Um Raio-X da História Brasileira
Em seu conjunto, o livro é quase um raio-x de um dos períodos mais intensos e conturbados da história brasileira — quando o Brasil ganhou nova capital, trouxe duas Copas do Mundo para casa, viu nascer a bossa nova, teve um presidente da República que renunciou e outro que acabou deposto por um golpe militar. Drummond opinou sobre tudo isso com leveza e humor, sem nunca deixar a ironia de lado, uma de suas marcas.
Observações Universais
Apesar de o período em que essas crônicas foram escritas estar claramente marcado em seus conteúdos, mesmo distante no tempo, as observações e experiências do escritor são universais e se mantêm atuais, observa Pellanda. É justamente nesse terreno fértil e movediço, escreve o organizador, ‘no qual as coincidências se multiplicam com o avanço das décadas e a evolução da mentalidade de leitores cada vez mais diversos, que uma crônica escrita no Brasil, há 70 anos, pode ganhar novos sentidos, alheios e até mesmo estranhos ao projeto e ao desejo original de seu autor’.
150 Crônicas em 350 Páginas
São 150 crônicas, de duas ou três páginas cada, escolhidos entre os melhores de aproximadamente 2 mil textos, que Drummond escreveu, ao longo de 15 anos, para a coluna Imagens, do jornal carioca, extinto em 1974. Com 350 páginas, o livro custa R$ 119,90. Embora tenha guardado todas com zelo em seu arquivo pessoal até morrer, em 1987, Drummond nunca pensara em publicar os textos. Produzida para jornais, frequentemente na correria do fechamento das edições, o escritor definia a estrutura da escrita de crônicas, um formato que se distingue pela sua capacidade em capturar o espírito de um momento específico da vida.
Fonte: @ NEO FEED