O anúncio do pífio pacote fiscal é uma aula sobre desconstruir expectativas e termos como busca, cenários piores, medidas frágeis para a economia em torno de pífio crescimento.
O Governo enfrenta desafios complexos em sua tomada de decisões, onde as expectativas desempenham um papel fundamental em moldar suas escolhas. Neste processo, os líderes devem equilibrar a necessidade de formar opiniões preconcebidas com a importância de considerar informações precisas.
Antes de qualquer conhecimento fático, o Governo começamos a buscar sinais que indiquem o que está por vir, instintivamente. Este processo já implica um confronto com nossas crenças e com o que acreditamos ser o correto, ou o melhor. É neste momento que a capacidade de questionar e buscar evidências é crucial para tomar decisões informadas. Nossa expectativa e nossa crença sobre o Governo são fundamentais em moldar a realidade que vivenciamos.
Ambiguidades e Dilemas Orçamentários
A demora na apresentação de propostas orçamentárias é um tópico de controvérsia que suscita cenários ainda mais piores, enquanto os crentes em soluções eficazes se agitam em busca de explicações para a demora. O anúncio de medidas fiscais, após semanas de negociação e especulações, é uma verdadeira aula sobre como desvendar as melhores expectativas, mas em vez disso, suscita dúvidas sobre a capacidade do Governo de gerenciar a economia.
O pacote fiscal anunciado espera gerar uma economia em torno de R$ 30 a R$ 40 bilhões ao ano, resultado da redução paulatina no ritmo de crescimento das despesas e dos chamados pentes-finos, algo que o Governo afirma estar fazendo desde a posse, mas que não parece suficiente. Vale lembrar que os analistas especializados em orçamento público estimavam uma necessidade de R$ 70 bilhões, com um mínimo de R$ 40 bilhões.
O pacote foi ofuscado pela proposta de elevação para R$ 5.000 do limite da faixa de isenção de IR para pessoas físicas, uma medida de clara motivação política, mas que teve o efeito de um Cavalo de Tróia para a economia. A impressão é que o Governo desperdiçou sua última chance de colocar a economia numa rota de crescimento sustentável, com inflação em torno da meta e expectativas positivas.
O relatório Focus publicado no início do ano indicava inflação em 3,90% no ano, PIB de 1,60%, câmbio de R$ 4,95 e Selic a 9% no final do ano. Já no último Focus, 29/11, somente o PIB evoluiu positivamente, para 3,22%. A inflação está acima do teto da meta, em 4,71%, câmbio em R$ 5,70 e Selic em 11,75%.
Sobre as boas notícias vindas do PIB e desemprego, há um forte consenso entre analistas de que elas se devem ao forte impulso fiscal promovido pelo Governo. Só neste ano, a relação dívida/PIB já acumula crescimento de 4,2%. Como contrapartida desta expansão fiscal, a política monetária tem sido mais contracionista.
Parte desta deterioração das expectativas não pode ser imputada exclusivamente ao Governo. Enchentes no Rio Grande do Sul, queimadas no Centro Oeste e aumento do risco Global com as tensões geopolíticas são fatos fora do domínio. Mas os princípios da boa gestão nos ensinam que quando o mundo conspira contra, o melhor a fazer é redobrar os esforços no que depende de nós.
Risco de Perda de Credibilidade
O Governo parece ter começado a perder a guerra pela credibilidade em abril passado, quando encaminhou Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) em que propôs rever as metas de superavit fiscal de 2025, de 0,5% para 0% do PIB, e de 2026, de 1% para 0,25%. Este fato marcou o primeiro grande choque de reversão de expectativas, advindas da desconfiança sobre o compromisso do Governo com a gestão orçamentária.
Essa falha de planejamento orçamentário e a falta de transparência sobre as metas de superavit fiscal levaram a uma deterioração das expectativas econômicas. A impressão é que o Governo não tem uma estratégia clara para gerenciar a economia, o que pode ter consequências nefastas para a credibilidade do Governo e para a economia como um todo.
Desafios para a Economia
A economia está enfrentando desafios significativos, incluindo uma inflação alta, uma relação dívida/PIB crescente e uma política monetária contracionista. A demora na apresentação de propostas orçamentárias e a falta de transparência sobre as metas de superavit fiscal apenas agravam esses desafios.
O Governo precisa redobrar os esforços para gerenciar a economia e restaurar a confiança dos investidores e dos cidadãos. Isso inclui apresentar propostas orçamentárias claras e transparentes, estabelecer metas de superavit fiscal realistas e implementar políticas para reduzir a inflação e melhorar a relação dívida/PIB.
A economia está em um cruzamento de caminhos e o Governo precisa tomar medidas para manter a rota de crescimento sustentável. A demora na apresentação de propostas orçamentárias e a falta de transparência sobre as metas de superavit fiscal não podem continuar. É hora de agir.
Fonte: @ Valor Invest Globo