Índice acumula perdas de 3,7% e alta taxa básica gera juros com perspectiva de ciclo alta tarifa.
Os investidores no mercado imobiliário brasileiro estão enfrentando um cenário desafiador, com o juros influenciando diretamente sua tomada de decisão. O índice de referência dos fundos imobiliários, o Ifix, apresentou um patamar baixo há mais de um ano, conforme apontam os dados históricos.
Em 2023, o Ifix havia atingido um patamar alto em maio, e agora, ao final do ano, ele está abaixo dos 3 mil pontos. Isso ocorreu devido a uma queda de quase 2% durante a sessão de ontem. Além disso, desde o início de dezembro, o indicador registrou perdas significativas em quatro dos cinco pregões do mês, totalizando uma perda de 1% em cada um desses dias. Dentre essas perdas, a Selic, que é o juro básico utilizado pelo Banco Central do Brasil, também teve um impacto considerável. O aumento da Selic elevou os custos de captação de recursos por parte das instituições financeiras, o que afeta as empresas, resultando em um cenário de incerteza para os investidores. O cenário atual é marcado por uma disputa pela liquidez no mercado, o que pode estar relacionado à preocupação com o aumento dos juros que influenciam o comportamento dos investidores no mercado imobiliário.
Acotelimento: O cenário negativo da atividade econômica e inflação desafia os juros mais altos
Nesta sexta-feira (6), o Ifix apresentou uma recuperação de cerca de 2%, atingindo os 3 mil pontos. No entanto, em dezembro até aqui, o índice já acumula perdas de 3,7%, o que significa que a desvalorização no mês seria de mais de 5% sem a alta de hoje. Já são três meses seguidos no negativo, e somente em setembro, outubro e novembro, o Ifix acumula queda de 7,75%. E, até aqui, dezembro pode ser mais um mês perdido. No saldo do ano, o índice apanha quase 9%.
O movimento amplamente negativo da categoria nos últimos dias e nos últimos meses está ligado ao início do ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, somado à perspectiva de que os juros vão permanecer elevados por mais tempo que o esperado. A rápida mudança nas projeções para a taxa Selic acontece por alguns motivos, entre eles a escalada do risco fiscal, a força da atividade econômica e o aumento nas estimativas para a inflação. Atualmente, as casas apostam em uma Selic entre 13% e 14% no próximo ano, e não estão descartadas as chances de chegar a 15%.
Isso tudo impacta diretamente os preços das cotas dos fundos imobiliários na bolsa. A relação entre os dois é inversamente proporcional, ou seja, se a Selic está alta, os fundos tendem a cair. No entanto, se a Selic cai, os fundos se valorizam. Não por acaso, neste ano até novembro, todos os setores de fundos imobiliários amargam perdas. Os fundos de ‘tijolo’, que investem em imóveis, como shoppings, lajes corporativas e galpões logísticos, são os mais penalizados.
O segmento de lajes corporativas desvaloriza 14,3% no ano, enquanto o de fundos de fundos (FoFs) recua 10,7%, o de shoppings perde 10,1% e o de galpões logísticos cede 8,80%. Até o setor de recebíveis imobiliários, que investe em títulos de dívida do setor imobiliário e, por isso, tem uma pegada de renda fixa, cai no ano. Ainda que em menor intensidade, os fundos de ‘papel’, como também são conhecidos, perdem 2,09%.
É claro que a queda generalizada do preço das cotas dos fundos imobiliários está embutindo um risco maior. O entendimento é o de que os juros mais altos podem impactar as atividades das empresas de modo a frear o crescimento, tendo como consequência uma redução dos aluguéis, aumento da vacância e queda nos rendimentos dos fundos, explica Carolina Borges, analista da EQI Research, em relatório.
A pesar da perspectiva nada otimista para a categoria, destaca Larissa Gatti Nappo, analista do Itaú BBA, os resultados operacionais dos principais segmentos de fundos imobiliários estão positivos, com queda na taxa de vacância e aumento dos preços dos aluguéis em algumas regiões.
Fonte: @ Valor Invest Globo