O diretor espanhol explora o luto, a morte e a liberdade em sua obra, misturando vida e morte.
Julianne Moore e Tilda Swinton em ‘O Quarto ao Lado’ Foto: El Deseo/Iglesias Mais do que citar que o novo filme de Pedro Almodóvar é estrelado por Julianne Moore e Tilda Swinton, é o suficiente para atiçar a curiosidade de quem é familiarizado com o tamanho da potência destes três artistas, visto que a obra de Pedro Almodóvar é referência em arte cinematográfica e ambos os atores são figuras proeminentes em cinema.
Constante em suas coisas como na arte de contar histórias, Pedro Almodóvar sem dúvida é um dos nomes mais queridos em Hollywood e nos templos da arte cinematográfica mundial, sobretudo por ter estreado projetos que atendem aos gregos da alma, como no caso do filme ‘O Quarto ao Lado’, estrelado por Julianne Moore e Tilda Swinton.
Uma Visão Intensa de Almodóvar
O cineasta espanhol Pedro Almodóvar estreia em 24 de novembro, nos cinemas brasileiros, com seu primeiro filme em inglês, ‘O Quarto ao Lado’, uma obra-prima que reúne elementos da arte cinematográfica com a profundidade dos temas abordados, demonstrando a genialidade de Almodóvar, que não se limita à língua espanhola ou aos símbolos hispânicos típicos de suas obras. Em vez disso, ele se sai vitorioso em elementos ligeiramente diferentes, testando o poder do melodrama em uma atmosfera acolhedora, criada por cores quentes e recursos cênicos impressionantes.
Ainda que Almodóvar possa parecer diferente em sua abordagem, sua esencia remanesce intacta, com temas que dialogam com a sexualidade, o universo feminino e os laços maternos rompidos ou fragmentados. Por isso, se o seu medo é de ver um Almodóvar ‘vendido’, você pode se sentir aliviado. Suas duas atrizes, Julianne Moore e Tilda Swinton, cativam com uma intensidade que desnuda quem está despreparado, oferecendo um relacionamento entre elas que é digno de nota.
Um Filme Sobre Ameizade e Conflitos
No roteiro adaptado do romance ‘O Que Você Está Enfrentando’, de Sigrid Nunez, Almodóvar conta a história de Martha (Swinton), uma mulher enfrentando uma forma agressiva de câncer que se reconecta com Ingrid (Moore), uma amiga de sua juventude. Após anos sem se encontrarem, as duas, que trabalharam juntas em uma revista, retomam a amizade diante de uma situação delicada que fará suas diferenças aflorarem.
Mesmo que suas diferenças os separem, elas se aproximam à medida que se atualizam sobre os acontecimentos de suas vidas, tornando-se cada vez mais próximas. É uma relação que é tão cativante que o espectador se sente como um terceiro membro nesse círculo, como se também fizesse parte desse grupo de amigos. E, quando Martha convida Ingrid para passar uma temporada com ela em uma casa isolada em Woodstock, essa relação dá origem a um tipo de cabo de guerra interessante: os valores opostos das duas a respeito de vida, laços familiares, legado e luto fazem com que elas se aproximem e precisem entender o ponto de vista uma da outra.
Um Encontro de Opostos
Nesse sentido, ‘O Quarto ao Lado’ dialoga bastante com ‘Mães Paralelas’, um filme anterior de Almodóvar que trazia Penélope Cruz e Milena Smit como duas mães-solo com ideias antagônicas sobre maternidade e ancestralidade. Nesse caso, no entanto, a sensação é que a história corre com uma fluidez natural, algo que lembra muito ‘Tudo Sobre Minha Mãe’. O filme anterior de Almodóvar se caracterizava pela tensão interna das personagens principais enquanto enfrentavam temas de ancestralidade e maternidade, mas também revelava uma forte conexão delas, que se mantêm unidas apesar das divergências.
Ao contrário do que se poderia imaginar, as ideologias opostas das personagens de ‘O Quarto ao Lado’ não são apenas um motivo de conflito, mas também de encontro. E é nesse encontro que o filme procura explorar as formas como as pessoas lidam com o luto, a vida e os laços familiares em um contexto onde os valores opostos podem ser uma força unificadora em vez de uma força destrutiva. É uma abordagem que brilha com uma beleza que inunda cada cena, cada personagem e cada detalhe de arte, criando um ambiente único que se torna uma verdadeira obra de arte cinematográfica.
Fonte: @ Terra