Entidades civiles e especialistas sugerem caminhos para concreto projeto. País assume responsabilidade por crimes contra africanos, indígenas e descendentes (colonização, violações). Reparações: medidas, formas, grupos de trabalho, processos.
Recentemente, a fala do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, referente à reparação pelo período da escravidão no Brasil, gerou reflexões em diversos âmbitos da sociedade, tanto do lado de cá do Atlântico quanto do lado de lá.
A questão sobre a necessidade de reparo histórico e o debate acerca da possibilidade de indenização por parte de Portugal foram temas centrais nas discussões, evidenciando a importância de se reconhecer e lidar com as consequências do passado. A discussão sobre reparação é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
Discussão sobre Responsabilidade do País na Reparação por Crimes de Colonização
Entidades civis de defesa de direitos humanos, acadêmicos e autoridades políticas expressaram aprovação diante do pronunciamento, porém, solicitaram com firmeza um plano concreto de reparação pelo conjunto de crimes e violações ocorridos durante o período de colonização. Foi um marco historico, já que foi a primeira ocasião em que um presidente de Portugal admitiu a responsabilidade de maneira mais incisiva, apesar de tal posição não ser compartilhada pelo conselho de ministros do governo português.
O presidente Marcelo Rebelo de Sousa expressou a necessidade de reparação, destacando a importância de corrigir as injustiças do passado. Ele questionou se os responsáveis pelos atos cometidos foram de fato punidos, se os bens saqueados foram devidamente devolvidos, enfatizando a importância da reparação diante das lacunas históricas que ainda persistem.
Desafios na Quantificação dos Custos da Colonização
Como mensurar exatamente os ‘custos’ e prejuízos decorrentes de um sistema de exploração e opressão que perdurou por séculos? Seria viável atribuir um valor monetário a essas perdas ou seria mais adequado buscar compensações políticas, sociais e culturais? Esse questionamento levanta reflexões importantes sobre a complexidade envolvida na reparação desses danos históricos.
Especialistas destacam a necessidade de adotar medidas efetivas de reparação, considerando os danos causados a africanos, indígenas e seus descendentes ao longo da história. Diversas formas de reparação são sugeridas, visando mitigar os impactos negativos do colonialismo e da escravidão sobre essas comunidades.
Participação da Sociedade Civil nos Processos de Reparação
Naiara Leite, coordenadora-executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra, ressalta a importância de incluir os principais afetados na definição e implementação das medidas de reparação. A participação ativa da sociedade civil nos grupos de trabalho e nos processos é fundamental para garantir que as ações de reparação não se restrinjam a iniciativas isoladas, mas sejam construídas de forma coletiva e inclusiva.
No contexto do Fórum de Afrodescendentes na ONU em Genebra, entidades brasileiras de mulheres negras cobraram posturas mais contundentes de Portugal em relação à responsabilidade pela escravidão e propostas de reparação. A necessidade de envolver as organizações da sociedade civil nesse debate é fundamental para garantir que as medidas de reparação sejam efetivas e abrangentes.
Medidas de Reparação e Formas de Atuação
Durante o evento da ONU, foram apresentadas demandas e propostas consideradas adequadas para o Estado português iniciar o processo de reparação, tais como a criação de museus e centros de memória que reconheçam os impactos da colonização sobre a população afro-brasileira, a inclusão da temática da História dos Impactos Nocivos do Colonialismo Português no currículo escolar e a celebração de pactos de colaboração com o Brasil e outros países colonizados.
Essas medidas, aliadas a investimentos financeiros, preservação da memória e revisão de acordos de cooperação entre as nações, são consideradas fundamentais para efetivar a reparação histórica e promover a reconciliação entre os povos envolvidos. A atuação conjunta e o diálogo transparente são essenciais para avançar nesse processo complexo de reparação.
Fonte: @ Agencia Brasil