Equipe colaborativa realiza xenotransplante em paciente vivo para tratar doença renal em estágio terminal; solução promissora para crise de escassez de órgãos.
O Hospital Universitário de São Paulo, localizado na capital paulista, divulgou recentemente que realizou o primeiro transplante de medula óssea entre irmãos gêmeos idênticos no Brasil. De acordo com os médicos responsáveis, a cirurgia, realizada no último dia 10, foi um marco na medicina brasileira.
Recentemente, cientistas na China conduziram um estudo pioneiro sobre transplantes interespécies, utilizando células-tronco de porco para tratar pacientes com lesões na medula espinhal. Os resultados mostraram melhorias significativas na função motora dos pacientes, abrindo caminho para novas pesquisas no campo do transplante xenogênico.
Equipe dedicada e liderada por Leonardo Riella realiza transplante pioneiro
A equipe que realizou a cirurgia pioneira foi liderada por um brasileiro, o nefrologista Leonardo Riella, diretor médico de transplante renal do hospital. ‘Fiquei emocionado no anúncio quando falei da nossa equipe. Foi uma dedicação muito intensa. Dia e noite, nossa equipe estava dando a alma e mais um pouco para que desse certo’, disse Riella, em entrevista a VEJA.
Transplante interespécies realizado em Richard Slayman
O xenotransplante (transplante, infusão ou implantação de órgãos de espécies diferentes) foi feito em Richard Slayman, um paciente com doença renal em estágio terminal e durou quatro horas. Slayman já tinha sido transplantado em 2018 após sete anos fazendo diálise. Ele vive ainda com diabetes tipo 2 e hipertensão.
No ano passado, o órgão começou a apresentar falhas e ele teve de retomar as sessões. No entanto, apareceram complicações vasculares e o paciente precisava ir ao hospital a cada duas semanas. Slayman chegou a realizar 16 procedimentos cirúrgicos para corrigir as intercorrências.
‘Meu nefrologista, Winfred Williams, e a equipe do Transplant Center sugeriram um transplante de rim de porco, explicando cuidadosamente os prós e os contras desse procedimento. Eu vi isso não apenas como uma forma de me ajudar, mas também como uma forma de dar esperança às milhares de pessoas que precisam de um transplante para sobreviver’, disse, em comunicado.
Equipe colaborativa e avanços no xenotransplante
Nesta sexta-feira, 22, o paciente deve ter a linha de diálise removida e, depois, vai para casa. Ele continuará sendo monitorado com consultas e exames — da mesma forma que qualquer pessoa submetida a um transplante.
O órgão suíno foi fornecido pela empresa eGenesis e submetido a 69 edições genômicas com a tecnologia CRISPR-Cas9, também conhecida como ‘tesouras mágicas’ e que foi laureada com o Prêmio Nobel em 2020. Além da remoção de genes que causariam rejeição, foram adicionados genes para melhorar a compatibilidade em humanos.
Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Riella fez doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e residência no Brigham and Women’s Hospital. Ele mora nos Estados Unidos há 20 anos e é professor associado na Harvard Medical School.
Xenotransplante e redução da escassez de órgãos
Embora tenha liderado o grupo que atingiu o feito inédito no universo dos transplantes, ele credita o sucesso ao trabalho de cada profissional que participou do procedimento. ‘É um trabalho de equipe, cada um traz uma parte da sua experiência e as estrelas acabam se alinhando.
Estou orgulhoso e muito feliz por poder ter uma equipe tão colaborativa com objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.’ Segundo o médico, a técnica também é uma forma de reduzir o sofrimento das pessoas que aguardam em filas de transplante por causa do número de doadores abaixo da demanda.
‘O xenotransplante era para ser a maior frente de transplante há mais de 30 anos, mas tivemos muitos desafios. Só nos últimos dez anos que observamos mudanças e o CRISPR permitiu que corrigíssemos diferenças que causam rejeição.
É uma solução promissora para a crise de escassez de órgãos que enfrentamos.’ Segundo a Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos (UNOS), mais de 100 mil pessoas nos Estados Unidos esperam por um transplante e 17 pessoas morrem todos os dias na fila. O rim lidera o ranking de órgão mais demandado.
Fonte: @ Veja Abril