Deterioração rápida do cenário financeiro está relacionada à expansão de contratos de opções no B3, enquanto o governo apresenta pacote de corte de gastos e luta com dívida federal.
Com a Selic em 4,5% ao ano, o mercado espera que ela suba em 2023, mas as chances de ela subir de uma vez só 1 ponto percentual têm disparado desde a semana passada, quando os planos fiscais do governo para os próximos dois anos foram apresentados. Isso significa que os juros podem se tornar uma opção mais atraente para os investidores.
Precisando de uma opção de renda fixa, os investidores têm mais uma opção para considerar: as taxas de juros oferecidas por os juros podem ser mais atraentes do que as taxas de remuneração em outros tipos de investimentos. Com as chances de subida da Selic aumentando, os investidores podem se beneficiar com os juros mais altos oferecidos por alguns títulos públicos e privados, permitindo que eles obtenham uma remuneração mais alta para seus investimentos.
Expectativas de alta nos juros ganham fôlego
Não será surpresa se o Banco Central (BC) aumentar novamente a taxa básica, a Selic, na próxima quarta-feira (11). Na reunião anterior, em agosto, a taxa básica começou a subir em 0,25 ponto, e agora os especialistas estimam que a próxima alta seja ainda maior, em 0,5 pontos. Isso está previsto nas opções de juros negociadas na B3, com base na ferramenta Termômetro do Copom, do Valor Investe.
A deterioração das expectativas financeiras acontece enquanto o mercado vê com desconfiança as medidas do governo para reduzir despesas de R$ 72 bilhões entre 2025 e 2026. A ideia de se isentar do imposto de renda para brasileiros que recebem até R$ 5 mil também foi mal recebida. O projeto do governo foi apresentado entre quarta-feira (27) e quinta-feira (28) passadas.
Na terça-feira (26) da semana passada, a chance de uma alta de 1 ponto na Selic no dia 11 era de apenas 5,5%. Já uma alta de 0,5 ponto era atribuída a probabilidade de 27,5%. A maior parte dos contratos previa uma alta de 0,75 ponto, com chance de 66,5%. No entanto, na sexta-feira (29) passada, a chance de uma alta de 1 ponto subiu para 31,5%, ficando atrás apenas da aposta de alta de 0,75 ponto, que passou a ter 59,5%.
A chance de uma alta de 0,5 ponto, antes de 6,3%, tornou-se improvável. Na quarta-feira (4), última data de aferimento, as chances de uma alta de 1 ponto eram de 47%. Já 48% de investidores esperavam uma possível alta de 0,75 ponto. Apenas 1,3% de investidores esperavam uma nova alta de 0,5 ponto.
O governo pretendia que as medidas anunciadas tivessem um ‘choque positivo’ nas expectativas, fazendo com que os agentes de mercado retiraram de suas projeções de juros a percepção de que a política fiscal seria inflacionária ao longo do tempo. No entanto, o contrário aconteceu, e as expectativas se deterioraram.
Por quê mais juros? Pairam dúvidas sobre se os cortes de gastos pretendidos pelo governo serão mesmo da ordem de R$ 70 bilhões. Se o governo não conseguir reduzir a dívida federal, os especialistas consideram que a trajetória da dívida não será estabilizada ao longo do tempo.
Com isso, os preços de juros aumentam, pois os investidores locais correm atrás de moeda americana para buscar opções consideradas mais seguras lá fora. O aumento da procura de dólares puxa preços para cima em reais. Além disso, os estrangeiros retiram seus capitais do Brasil, tornando dólares ainda mais escassos e pressionando os preços em reais a subirem.
Mas não só o dólar em alta explica a projeção de mais inflação lá na frente e, portanto, necessidade de uma Selic mais alta. Passa por essa aversão ao risco que os investidores têm com a política fiscal do governo, que pode afetar a economia e as expectativas de juros.
Fonte: @ Valor Invest Globo