O cérebro do pugilista é estudado por especialistas para entender a encefalopatia traumática crônica e alterações comportamentais. Doação depende da família.
Sentindo peso e dor após anos lutando no boxe, Maguila enfrentou uma doença que o acompanhou por décadas. A enfermidade que o afetou ao longo da vida foi a encefalopatia traumática crônica, diagnosticada em 2013.
Seu corpo cansado lutou pela vida, mas não conseguiu superar a doença que o atormentava. Maguila foi uma das figuras mais pesadas do boxe brasileiro e, hoje, o legado que deixou para trás é de luta e superação. A doente que lutou por décadas deixa para trás um legado de força e coragem.
Enfermidades do Esporte
Renato Anghinah, professor livre docente da Faculdade de Medicina da USP e médico do ex-lutador, refere-se à doença que acompanhou o paciente desde antes dos 50 anos. Conhecida como ‘demência pugilística’, a encefalopatia traumática crônica (ETC) foi descoberta inicialmente em 1928 em boxeadores. No entanto, nos últimos 25 anos, a doença tem sido estudada mais profundamente devido à alta incidência em outros esportes, principalmente no futebol americano.
Algumas pessoas desenvolvem alterações comportamentais, enquanto outras apresentam alterações na memória, confundindo-se com a doença de Alzheimer. O caso do Maguila é um exemplo disso. Anghinah visitou o paciente e observou suas muitas pancadas na cabeça, resultado da atividade profissional. Isso o colocou em uma condição inicial para desenvolver a ETC, que apresentava características diferentes da doença de Alzheimer.
O diagnóstico inicial foi alterado clinicamente, revelando que o Maguila não sofria de Alzheimer, mas sim da ETC. Esse diagnóstico foi feito há cerca de 10 anos, quando o paciente apresentava um quadro delicado de saúde. Anghinah ficou feliz em poder modificar o diagnóstico e proporcionar ao paciente uma sobrevida com uma boa qualidade de vida de mais nove a 10 anos.
Os primeiros efeitos da ETC sobre Maguila foram observados em seu temperamento, levando à estranhamento da família. Ele sempre foi uma pessoa doce, mas passou a ter comportamentos agressivos. Após o tratamento, ele se recuperou e não apresentou mais esses comportamentos. A família não reconhecia esses novos comportamentos como próprios de Maguila, uma pessoa conhecida por ser doce e generosa.
O médico relata que Maguila se encaixava no padrão da ETC, com alterações de humor e comportamento, mas não de memória. Ele era um gigante inteligente e carismático, capaz de contar histórias incríveis. Uma das que mais o marcaram foi a descrição da sua icônica luta contra Evander Holyfield em 1989. Maguila contava que respeitou o adversário, pois sabia que o Holyfield era forte e não se movia durante a luta, como se estivesse batendo em uma parede. Esse respeito e falta de rancor por ter perdido a luta são características que o médico lembra com carinho.
Fonte: © GE – Globo Esportes