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Após a implementação do real em 1º de julho de 1994, o pregão eletrônico tornou-se uma opção factível para investidores, com rentabilidade de 80%.
Era outubro de 1994. Um operador do Banespa se acotovela com outros mil homens na horda que toma o saguão da Bovespa. Lápis e bloco de anotações em mãos. O telefone amarelo e vermelho amarrado à sua cintura toca. – Toma [compre] 5 mil [ações] da Vale a 231 [reais]. O Plano Real estava em pleno vigor, trazendo estabilidade econômica ao país.
O Plano Real foi um marco na história econômica do Brasil, trazendo benefícios para o mercado financeiro e para a moeda brasileira. Com esse novo programa econômico, o país viu uma transformação significativa em sua economia, gerando confiança nos investidores e impulsionando o crescimento. O impacto do Plano Real foi sentido em diversos setores, fortalecendo a economia nacional e trazendo prosperidade para o povo brasileiro.
Plano Real: O marco no mercado financeiro brasileiro
O operador se move rapidamente em direção a uma das rodas mais barulhentas do saguão. Ao avistar um rosto conhecido, é informado sobre as negociações: ‘comprador a 230 [reais] por vendedor a 233 [reais]’. Seus olhos se voltam para a tela de cotações acima, exibindo um sinal verde piscando. Para se destacar na multidão, ele se apoia na grade de metal, delimitando uma espécie de mini arena onde os negociadores de Vale se concentram. Esticando o braço direito em um gesto exagerado, ele grita com entusiasmo: – Tomo [compro] 5 mil a 231!
Outros operadores correm em sua direção com ordens de venda para papéis da Vale, uma verdadeira corrida em direção ao melhor negócio. O mais ágil leva a melhor, e o negócio é fechado em meio a uma atmosfera frenética. Toda essa encenação se desenrola em menos de 1 minuto, e logo os dois homens se dirigem ao balcão com as boletas para o registro do negócio, enquanto o sistema eletrônico é atualizado. O telefone toca, anunciando o início de uma nova rodada de negociações.
Nos anos 1990, o Brasil viu surgirem diversas bolsas de valores, principalmente de abrangência regional. No entanto, o clima agitado e ruidoso dos pregões era algo do passado. Foi somente após a implementação do Plano Real, em 1º de julho de 1994, que investir em ações se tornou uma opção viável para um número maior de investidores no país.
Plano Real e a Revolução no Mercado Financeiro Brasileiro
O Plano Real foi um marco que colocou o Brasil no mapa do mercado financeiro global. Seu processo gradual de implementação culminou na entrada em vigor da nova moeda brasileira. Paralelamente, a evolução da informática trouxe consigo o pregão eletrônico, uma mudança significativa no modo como as negociações eram realizadas.
Luiz Mariano de Rosa, fundador da Improve Investimentos e operador de bolsa desde os anos 1990, relembra essa transição. O pregão eletrônico, precursor do que conhecemos como home broker hoje, representou uma mudança fundamental no mercado. No entanto, a maior parte das transações ainda ocorria no tradicional ‘viva-voz’, com operadores gritando ordens e correndo de um lado para o outro.
A memória coletiva do Brasil ainda guarda vivamente lembranças da hiperinflação, um período em que a rentabilidade de 80% ao mês na renda fixa era uma realidade. Os operadores se recordam dos desafios de lidar com uma inflação descontrolada, onde a rentabilidade necessária para competir era exorbitante. A hiperinflação deixou marcas profundas na economia brasileira, com índices astronômicos que assombravam a população.
A inflação medida pelo IPCA chegou a incríveis 6.000% em um acumulado de 12 meses nos anos mais críticos da década. Em junho de 1994, momentos antes da entrada em circulação do real, a inflação atingiu a marca de 50%. Já o IGP-DI, índice oficial do país até o final de 1999, alcançou 1.157,8% em 1992 e 2.708,4% em 1993. A introdução do Plano Real representou não apenas uma mudança na moeda brasileira, mas uma transformação profunda no cenário econômico do país.
Fonte: @ Valor Invest Globo