Testemunha Fernanda Chaves disse que olhava Marielle no carro e queria acreditar que ela estava viva, momentos antes da perícia confirmar o óbito como uma das vítimas da chacina que atingiu a entidade que a advogada defendia.
Uma investigação sobre o assassinato de Marielle Franco, vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, revelou que a assessora Fernanda Chaves acreditava que a política estava viva, mas desmaiada, após o atentado em 2018.
De acordo com relatos da investigação, a jornalista Fernanda Chaves, que trabalhava como assessora da vereadora Marielle Franco, afirmou que era provável que a política tenha sido atingida por disparos, mas ainda estivesse viva.
Assassinato na ponte
A jornalista Fernanda, sobrevivente do assassinato, foi a primeira a depor no julgamento dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz. Os réus são confessos pelo crime. Ela estava no carro alvo dos disparos que vitimaram a vereadora e o motorista Anderson Gomes. Fernanda relatou ao júri os momentos imediatamente anteriores e posteriores ao assassinato, ressaltando a tragédia do evento.
Fernanda, que estava sentada atrás do motorista, relatou que ouviu a rajada de tiros e se abaixou logo em seguida. Ela contou que ouviu Anderson esboçar um suspiro de dor e logo em seguida deixou o braço direito se soltar do volante. ‘Marielle estava imóvel. Senti o peso do corpo dela em cima de mim’, disse a testemunha, enfatizando a dor e o choque do momento.
De acordo com laudo do carro, Fernanda não foi atingida porque se abaixou e, também, foi protegida por Marielle. A jornalista disse que Marielle não costumava sentar no banco de trás do carro, como fez em 14 de março de 2018, data do atentado. A posição da vereadora acabou levando, segundo a perícia, os tiros a atingir também Anderson, que estava ao volante.
A sobrevivente disse que saiu sem ferimentos no corpo após a rajada de tiros e acreditava que o mesmo pudesse ter acontecido com a vereadora. ‘Meu corpo inteiro ardia. Não tinha certeza se eu tinha sido atingida ou não. Olhava para a Marielle lá dentro. Queria acreditar que ela estava viva. Imaginava que ela poderia estar desmaiada’, disse Fernanda, relembrando da tragédia.
A jornalista contou que imaginava ter passado por um confronto. ‘Tinha uma sensação que tinha passado por um confronto, até porque ali tinha tido um confronto 15 dias antes. A primeira coisa que me veio à cabeça. Acreditava que tinha passado pelo meio de um tiroteio. Até porque é Rio de Janeiro. Infelizmente é a realidade do Rio de Janeiro’, disse ela.
Fernanda também relatou como teve de sair do Rio de Janeiro e, posteriormente, do país após o atentado. Ela foi a Madri (Espanha) com apoio da Anistia Internacional, mas teve de custear com dinheiro de apoio da entidade a passagem de ida e volta para o Brasil para participar da reprodução simulada do crime.
A ex-assessora disse que a vereadora não se sentia sob ameaça. ‘Existiam outros parlamentares do partido dela que sofriam perseguições e ameaças’, disse ela, destacando a falta de previsão da tragédia.
A testemunha também relatou que não pôde participar dos ritos de despedida da Marielle. ‘Muito mais dolorido foi eu ser obrigada a não participar dos ritos de despedida da Marielle. Não era só uma funcionária da Marielle. Fazia parte da coordenação política do mandato dela. Tínhamos quase 15 anos de amizade. Ela era madrinha da minha filha. Éramos vizinhas. Não pude ir no velório, enterro, missa de sétimo dia. Fui impedida’, disse ela, relembrando da dor da perda.
O julgamento dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz é um caso emblemático de assassinato na ponte, e a testemunha Fernanda desempenha um papel fundamental na investigação. A falta de previsão da tragédia e a dor da perda são temas centrais em sua declaração, ressaltando a importância da perícia e do apoio à vítima.
Fonte: © Notícias ao Minuto