Grupo de teatro lida com dívidas de aluguéis, realiza campanha para arrecadar recursos. Patrocínio Petrobras será fundamental para manter o espaço cênico.
O Teatro da Vertigem é reconhecido como uma das mais importantes companhias teatrais do país, sendo responsável pela criação de espetáculos inovadores e provocativos ao longo de mais de três décadas.
A trajetória do Teatro da Vertigem é marcada pela busca por novas formas de expressão artística e pelo engajamento social, sempre explorando diferentes espaços e linguagens cênicas para impactar o público de maneira profunda e visceral.
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Teatro da Vertigem: a luta contra o acúmulo de dívidas
O grupo lida com o acúmulo de dívidas com aluguéis, que se ampliaram com a dificuldade de ser aprovado em editais de cultura que poderiam garantir recursos para suas atividades.Diante das cobranças de quitação dos débitos em aberto, a companhia já teve de se desfazer de equipamentos importantes.
Foram vendidos projetores, uma mesa de som e dois computadores de alto valor, sendo um fundamental para a elaboração e transmissão de trilhas e outro para a projeção de imagens.O endividamento já se arrasta por sete anos. A única trégua que existiu desde 2017 foi um edital aberto com base na Lei Aldir Blanc, com caráter emergencial.
Companhia teatral: desafios financeiros e políticos
Na sede, estão guardados atualmente diversos itens relevantes para a história da companhia, como figurinos e cenários das peças.Segundo a diretora Eliana Monteiro, a campanha de doações que o grupo iniciou há alguns dias e foi divulgada por atores como Matheus Nachtergaele já conseguiu 60% do valor necessário para liquidar as dívidas e garantir seis meses de aluguel no atual endereço.Para a diretora, fatores da conjuntura política do país contribuíram para a situação em que a companhia se encontra, algo que também atingiu a classe artística como um todo, como a forma que os governos dos ex-presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro conduziram as políticas de incentivo.
Segundo ela, o atual governo federal tem buscado reverter o cenário de desmonte na área, mas ainda é cedo para conseguir atingir totalmente esse objetivo.’Se pensar no que aconteceu nos últimos seis anos [de golpe com o impeachment de Dilma Rousseff em diante], foi terra arrasada. Viramos, tanto imprensa como artistas, inimigos [do governo].
Teatro da Vertigem: desafios financeiros e patrocínio
A minha percepção é a de que teve uma destruição muito grande’, afirmou Eliana em entrevista concedida à Agência Brasil.
‘Qualquer coisa que fosse colaborativa, aglomerasse mentes pensantes, nos tornaria personas non gratas mesmo’, acrescenta.’A dívida se acumulou no ano passado porque, desde 2017, a gente acabou perdendo o patrocínio da Petrobras, que iria até 2018, mas, com essa perspectiva de Bolsonaro, já cortaram o patrocínio de todos os grupos de teatro e outras áreas, como cinema.
Foi terra arrasada mesmo’, adicionou.A diretora ainda sugere que muitas pessoas podem pensar que a companhia jamais passaria por uma crise financeira, por já ter consolidado seu nome. ‘Talvez por conta de ser um grupo longevo, as pessoas talvez pensem que a gente tem mais recursos.
Companhia teatral: a história do Teatro da Vertigem
Mas, no Brasil, a gente nunca conseguiu viver só de teatro, a gente dá aula, faz milhares de coisas para conseguir manter a própria vida’, assinala ela.O Teatro da Vertigem foi idealizado por pessoas vinculadas à Universidade de São Paulo (USP), como o encenador Antônio Araújo e os atores Daniela Nefussi, Johana Albuquerque, Lúcia Romano e Vanderlei Bernardino.
Depois de ventilar ideias por cerca de um ano, se apresentou, pela primeira vez, em 1992, com o espetáculo O paraíso perdido, baseado no poema de John Milton, tendo como palco a Igreja Santa Ifigênia.Em 1995 estreou O Livro de Jó, no Hospital Humberto Primo, em São Paulo, consolidando, assim, uma de suas características, que consiste em ocupar espaços cênicos não convencionais, como igrejas, prisões e rios, e que chegou a causar rebuliço.A companhia incorporou influências como de Antonin Artoud e Jerzy Grotowski, já que entende que o teatro é capaz de oferecer uma vivência pedagógica.
Teatro da Vertigem: inovação e pesquisa
Entre as obras mais recentes, estão a performance-filme Marcha à ré, gravada por Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha, em 2020, comissionada pela 11ª Bienal de Berlim.Outros traços que marcam a trajetória e o método de trabalho da companhia são o intercâmbio entre áreas e o trabalho colaborativo e aprofundado, que abrange pesquisas de campo.
Uma delas ocorreu a partir de 2004, na comunidade de Brasilândia, na periferia da capital paulista, onde desenvolveram oficinas gratuitas e formaram multiplicadores.Eliana aponta isso como partes essenciais do processo criativo. No caso da pesquisa, serve para ‘perder o olhar turístico sobre os lugares’.
Assim como a permanência no Carandiru, a de Brasilândia, que foi pensada dentro do processo de criação do Projeto BR-3, durou um ano e envolveu a passagem por 14 espaços.’O Teatro da Vertigem já nasce com uma perspectiva de um trabalho de pesquisa teórica. A gente se debruça muito tempo sobre um assunto, para tentar desvendar o que está nas entrelinhas do problema, para não ficar na borda.
Então, a pesquisa demora uns dois anos, às vezes, para a gente começar. Aí, passa para a pesquisa de campo’, explica a diretora.Este conteúdo foi criado originalmente em Agência Brasil.versão original
Fonte: © CNN Brasil